O sofrimento causa apatia, falta de desejo, afastamento. É muito comum quando nos deparamos com alguém que encontra-se neste estado, usarmos aquelas frases clichês do tipo: “você precisa reagir”, “tem que se esforçar mais”. Não imaginam quão difícil e desafiador é para alguém nestas circunstâncias, colocar-se em movimento, tanto o corpo como a mente. Sair da inércia que aparentemente acolhe tão prazerosamente sua dor. Aquela dor que insiste em não lhe abandonar, que se aloja em sua vida. Aquela dor entranhada na alma. Que silencia o canto dos pássaros, que tira todo o colorido da existência, que encobre o brilho do sol, que afugenta a suave brisa da primavera e o calor do verão.

Quando se vê, já é inverno. Dias curtos, nublados e sombrios. Noites longas, intermináveis. Uma agonia que grita silenciosa. As forças desvaneceram. Respirar dói. Dói a alma. Como se houvesse um grande buraco dentro de si. Como se tivesse sobrado somente o corpo, deposito de uma alma que sofre, dia após dia.

É preciso sim, acolher suas dores, tristezas e perdas, mas apenas o suficiente para se recompor, recuperar o fôlego e novamente recomeçar a marcha. O sofrimento é muito mais do que um simples incomodo, ele nos obriga a renunciar metas e até mesmo sonhos, contudo nos faz refletir sobre valores e significados e nos confronta com a transitoriedade da vida.

Há alguns dias meu pessegueiro foi totalmente podado, não sobrando nenhum galho. Dias depois, ao observá-lo de minha janela, percebi vários brotos florescendo, cheios de ramos, cheios de vida. A natureza tem muito a nos ensinar. Assim como depois de longos dias sem aparência, sem expressão, eis que a força da vida se manifesta. Pequenos brotinhos, pequenas flores que se multiplicam a cada dia, numa transformação lenta e silenciosa. É a renovação, e a vida seguindo seu curso.

Acredite, tudo tem um propósito debaixo do céu. Todas as coisas tem o seu tempo de acontecer. Até lá, crie novas rotas que permitirão outras descobertas, outras sensações. E para os antigos caminhos, plantar novas flores e uma nova canção.

Autor: Eva Wolff