Quando você está no meio de uma roda de adolescentes/jovens é, por vezes, engolfado com a rapidez das relações. Em um dia encontro a pessoa que vai ser minha best para o resto da minha vida, muito bem, obrigado! Posto foto no facebook com declaração e corações. No dia seguinte a pessoa – atrevida que é – faz algo que eu não gosto, já mando uma mensagem no whats e encerro a amizade no facebook, sem ter o esforço de ter uma conversa face a face.
“Ainda bem” – pensamos.

Claramente não somos dessas pessoas que gostam de ficar jogando conversa fora com qualquer um. Está no protocolo social: se não está nas minhas redes sociais, não é meu amigo. Isso ‘facilitou’ imensamente a vida das pessoas. Antigamente meus pais e meus avós tinham que conversar e saber lidar com as pessoas, mesmo quando elas tinham atitudes que os irritassem. “Um absurdo isso” – diria uma pessoa média dessa sociedade. Quem em sã consciência fica preso à essas relações? O comum, agora, é entrar no ônibus e colocar os fones de ouvido, porque não estamos afim de ter que puxar papo com os colegas que encontro. “É muito chato ter que inventar assunto. Constrangedor”.

Não diferente, são os relacionamentos amorosos. “Antigamente” – diria minha avó – “as pessoas brigavam, e ainda continuavam juntas”. Já o jovem contemporâneo exclamaria: “Faça-me o favor. Ficar junto com alguém que te desagrada? Eu é que não quero isso para minha vida”. Se sou uma pessoa solteira hoje é porque ainda não achei a pessoa certa. Correto? Gostaríamos de ter relacionamentos intensos como nos filmes românticos… porém, duram dois meses. Será que tem algo acontecendo? “Mas nós nos desentendíamos, e ela(e) era uma pessoa muito diferente de mim” – diria o(a) jovem que estou usando de exemplo – “brigávamos muito… e das(os) outras(os) acabei enjoando de estar junto. Imagina quando casássemos?”

A descrição acima pode parecer esteriotipada e exagerada. Mas, atentando-se para um movimento de práticas culturais que vem crescendo não só no Brasil, mas no mundo todo, observa-se que é melhor configurarmo-nos no estilo “cada um no seu quadrado”. Em outras palavras: não devemos ser desagradados nunca! Já diria Sartre: “O inferno são os outros”. E realmente, se me apetecer, eu não preciso ser ‘incomodado’ pelas pessoas à minha volta. Temos um universo dentro de casa. Carregamos um mundo dentro do celular. Eu poderia passar horas assistindo vídeos dos meus youtubers preferidos ao invés de ler um livro. Poderia estar maratonando uma série no Netflix ao invés de sair para conversar com alguém, ou ter que passar pela formalidade de um jantar em família.

Posso assistir pessoas realizando ações, e superando suas próprias dificuldades, mas eu mesmo não tenho a necessidade de sair do sofá da minha sala, porque ali mesmo já tenho estímulos suficientes que me satisfazem. Somos ótimos observadores de pessoas que possuem ações criativas, mas somos péssimos em realizá-las sem desistir antes de começar.

Partindo desta linha de raciocínio, essa facilidade em “conseguir o mundo” em pouco tempo, com um baixo custo de resposta, evita-nos de passar por situações aversivas para ter a consequência final de nossas ações. Se só precisamos da internet e dos aparelhos digitais para resolver nossos problemas de uma maneira menos custosa, ficamos, também, acostumados a não suportar nenhum tipo de evento que não seja agradável. Isto é, não sabemos enfrentar certas necessidades de esforços para podermos agir no mundo. Por conseguinte, não sabemos nos comportar de maneira complexa: no tempo dos vídeos e do snapchat, ler um livro e estudar ou escrever, tornaram-se ações de muito esforço. Desistimos rápido.

Aprender a tocar um instrumento leva tempo e dedicação… mas para que dedicar-me à isso se há coisas para me entreter muito menos trabalhosas? Para que me dedicar à artes se posso observá-las por meio da TV, e ouvir músicas no meu celular? Para que sair de casa para encontrar amigos se temos grupos no whatsapp? E quando saio com meus amigos, para que tentar ter um assunto interessante, se basta ingerir substâncias psicoativas para que todos se tornem divertidos? Para que tentar resolver os problemas do meu relacionamento se posso terminar e começar outro que me agrade mais? Ou ainda, para que entrar em um relacionamento, se é muito menos custoso satisfazer meus desejos sem compromisso nenhum?

Essa incapacidade de enfrentarmos as adversidades da vida está enfraquecendo nossas relações, principalmente na cultura ocidental. O que poderia ser feito então? Deveríamos parar de usar as tecnologias, e voltar a mandar mensagem por meio de pombos correios? Será que a solução seria nunca mais me comunicar por WhatsApp para que eu não tenha preguiça de sair de casa com os amigos? Será que eu deveria ficar em um relacionamento que não tem mais jeito, pois se eu separar significaria que eu não sei resolver os meus problemas?

A resposta para essas perguntas, quem deve oferecer é cada um de nós. Minha função foi evidenciar o que claramente está sendo um problema, mas não devo ditar regras sobre como seria o modo de viver adequado. Obviamente, devemos levar em conta as modernidades atuais. Portanto, seria interessante pensar na possibilidade de que elas sejam usadas para contribuir com a humanidade, e não destruí-la. Que o desenvolvimento seja para que possamos desenvolver-nos socialmente, e não para enclausurarmo-nos. Que a expansão dos conhecimentos humanos não seja para enfraquecer, mas, fortalecer.

Autor: Marcos Carvalho.

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