Por amor a gente fica quando o abraço nos acolhe, quando o outro se importa com a nossa presença e faz questão de estar sempre por perto. A gente fica quando, mesmo com tantos tombos, mesmo com tantos erros, o outro não quer partir. Mesmo com todo o lema do desapego o outro quer se apegar e acha graça nisso.

Por amor a gente fica quando o telefone toca só pra saber se você está bem. Quando você abre o seu livro e lá está um bilhete com poucas palavras te desejando uma boa semana, quando você vê as mensagens no celular e lá está um bom dia.

A gente fica quando a tempestade vem e o outro quer se abrigar em nós, quando o vendaval passa e o sentimento permanece forte. A gente fica quando as coisas não vão bem e o outro se importa com isso, conta uma piada sem graça como quem quer tirar um riso teu. A gente fica quando tentamos remar contra a maré, que é o nosso medo, e desistimos no primeiro beijo, na primeira vez que o perfume fica na roupa depois daquele abraço. A gente fica quando o domingo torna-se saudade e a sexta-feira reencontro. A gente fica quando sente ser verdadeiro, quando sente paz. Quando sabe que o outro está disposto a ser morada e fazer morada em nós. Sem desculpas, sem justificativas, sem mentiras.
Mas, por amor a gente vai, por amor a nós decidimos partir. Por amor a nós deixamos de insistir no que insiste em não ser, em quem não quer ficar. Por amor, a gente vai depois do choro, depois das palavras que machucaram e das desculpas que nos cansaram.

A gente vai quando o outro não vê a nossa alma bonita, quando persiste em reparar em coisas fúteis e criticar por qualquer motivo. Quando o outro quer um amor passageiro, enquanto você quer de janeiro a janeiro. Por amor a gente vai quando o outro quer fazer joguinhos achando ser charme enquanto você já sabe o que quer. Quando o outro gosta de voltas e você só quer olhar para frente. Quando o outro quer pausas e retrocessos e você quer avanço.

Por amor a gente vai quando começa a se culpar e se achar problema, quando achamos ter algo de errado com nós. A gente vai quando o outro não soma em nossas vidas, mas nos diminui com a sua indiferença persistente. Quando não nos olha, e não repara nem se importa. Ou quando somos opção e não prioridade. Quando a desculpa do tempo, do cansaço, dos inúmeros compromissos tornam-se diários. No momento que você não tem espaço algum na vida do outro. E então, por amor a nós, decidimos partir, não como quem desiste do amor, mas como quem sabe que isso não é amor.

E então, justamente por amor a nós mesmos, decidimos partir depois de tanto insistir, depois de querer tanto fazer dar certo. Mesmo depois dos raros bons momentos e das esperanças que brotaram em nosso coração. Decidimos ir como quem não pretende voltar, mas ao mesmo tempo surge o terrível medo de olhar para trás. No fundo a gente sabe que não vale a pena permanecer, que o outro não é morada. No fundo a gente sabe que apego não é amor e que insistir no que nos faz mal é falta de amor próprio. Então, por amor decidimos ir, pela saudade do nosso riso sincero escondido, pela saudade de sorrir com a alma e não apenas com os lábios, de sentir o nosso coração feliz. Por amor deixamos partir o que nunca fez questão de ficar.






Psicóloga, 25, é aquela que escuta mil vezes a mesma música e tem a risada escandalosa. Não dispensa um sorvete e adora um pastel de feira com muito catupiry, mesmo sendo intolerante a lactose. Encontra paz na oração e vê amor nos pequenos detalhes.