O Romantismo ofereceu uma visão de amor resolutamente oposta às estruturas, hierarquias e tradições do passado. De acordo com esta visão, o amor romântico envolve não apenas atração sexual. Envolve achar alguém que “me completa”. Começa com olhar para dentro de mim mesmo:
“Não importam as expectativas do pai, a lista de tarefas da mãe ou os sermões do vigário. Quem eu sou e do que eu preciso? Como me sinto no que diz respeito a esta outra pessoa? Ela me compreende? Ela me ajudará a ser tudo aquilo que eu devo ser?” A autodescoberta dá, portanto, lugar à autorrealização e autoexpressão: “Este é quem eu sou, pai. Eu irei em busca dessa pessoa”.
Os Românticos originais estavam reagindo contra o frio racionalismo do Iluminismo. Queriam ser guiados pelo amor e não por estrutura, por desejo interno e não por constrangimento externo, por impulso espontâneo e não por dedução racional, por beleza e liberdade e não por eficiência e ordem. Mas permaneciam como herdeiros do Iluminismo. Eram tão individualistas quanto aqueles contra os quais reagiam. No âmbito dos romances, o que importa não é o que as pessoas são em relação à sua família, negócios ou religião. Essas estruturas antigas não definem as pessoas. O que importa é quem elas são em si mesmas – o que querem, o que sentem. Todo relacionamento é um contrato que pode ser rompido. O que é inegociável é o que meu coração individual me diz ser verdadeiro.
A história de amor bíblico também dá mais lugar para amizades. Nenhum ser humano pode satisfazer todas as necessidades emocionais, intelectuais e espirituais de outra pessoa. C. S. Lewis comentou sabiamente: “Em cada um de meus amigos, há algo que somente algum outro amigo pode revelar plenamente. Sozinho, não tenho suficiência para chamar todo o homem à atividade; quero outras luzes, além da minha própria, que me mostrem todas as suas facetas”. Lembro isso frequentemente a casais jovens, especialmente quando um inveja o tempo do outro. Mulheres devem incentivar seu marido a achar boa amizade masculina, e os maridos devem incentivar sua mulher a formar amizades femininas saudáveis. Somos mais felizes e menos exigentes com nossos cônjuges quando não lhes pedimos que façam o papel de Deus para nós.
Com certeza, toda parte do corpo precisa das outras partes, diz Paulo sobre a Igreja (1 Co 12). E quantas partes um corpo tem? Para experimentar verdadeiramente o amor, precisamos de muito mais do que aquilo que um cônjuge romântico pode nos dar.
Um tipo de amor que se foca apenas no casal, divorciado de todos os outros relacionamentos, talvez intencionalmente sem filhos, perverte o amor bíblico em algo estéril e estagnado. É um universo que, por fim, colapsa em si mesmo. Podemos até dizer que histórias de amor do Romantismo só podem culminar em homossexualidade, onde um ego busca se completar e se complementar apenas em si mesmo, sua imagem espelhada: duas projeções colidentes, dois polos de dois ímãs carregados positivamente, incapazes de se unirem ou criarem uma vida nova. O mobilizador grito de “diversidade” celebra a irônica falta da própria diversidade numa parceria de mesmo sexo.
Por outro lado, o amor bíblico exige que nos movamos para fora de nós mesmos. Exige que nos estendamos em direção a alguém diferente, porém complementar, que nos esqueçamos de nós mesmos e, depois, descubramos a nós mesmos mais profundamente. Por exemplo, eu não sou uma mulher e nunca entenderei totalmente como é ser uma mulher. Mas Deus exige que eu tente, ao me dizer que viva com minha esposa de uma maneira compreensiva. E, portanto, minha mente tem de dilatar-se, estender-se, inclinar-se para frente nessa tentativa. Sou forçado a sair de mim mesmo, abandonando meu narcisismo natural. Isso pode exigir autonegação no começo, o que sempre parece doloroso de antemão, mas, por fim, obtenho uma identidade mais ampla e um mundo maior.
Autor: Jonathan Leeman – Coalizão pelo Evangelho