Em um certo dia chuvoso, eu estava em casa sentada em meu sofá, assistindo mais um filme da minha coletânea de Nichollas Sparks juntamente com a minha emocionante solidão, quando estranhamente um homem bateu em minha porta e me perguntou se poderia entrar; Confesso que achei estranho alguém se oferecendo para entrar em uma casa desconhecida e achei mais estranho ainda alguém estar lá fora em meio a tanta chuva, e então eu o deixei entrar, afinal, lá fora devia estar frio. Por algum motivo estranho eu confiei naquele homem logo de cara e eu não conseguia ver malícia em seu olhar.

– “O que eu ainda tenho à perder?“ Pensei.

E então eu lhe disse: “Entre! Fique à vontade, mas não repare a bagunça. Algumas pessoas passaram aqui antes do senhor e deixaram algumas coisas fora do lugar, e a maior parte da bagunça não tem como arrumar sozinha, entende? Entulhos, teias e algumas outras coisas chatinhas de lidar”. Percebi que ele estava interessado em minhas palavras, e como eu não era do tipo que sempre recebia visitas, ou que sempre desabafava com alguém, resolvi continuar: “Sabe moço, as vezes nós confiamos em algumas pessoas e as deixamos entrar em nossas casas. Certa vez, eu fiz um amigo. Ele morava sozinho e me dizia que isso o incomodava, então eu o convidei para passar um tempo aqui comigo. No começo, nós dividíamos as despesas, as tarefas, os compromissos e tudo mais.

Sabe moço… eu gostava muito dele, e eu acreditava que ele sentia o mesmo por mim, mas certo dia acabou o nosso estoque de guloseimas, e então eu saí para comprar mais; quando eu cheguei em casa, ele havia ido embora sem nenhuma explicação, carta ou bilhete, e ainda por cima, bagunçou a casa toda. Eu fiquei chateada, confesso! Desde então eu nunca mais convidei ninguém para entrar aqui. Eu nunca tive muitos amigos, logo, minha casa não é um lugar muito visitado, se é que me entende. Me desculpe a tagarelice, é que como eu disse, não costumo receber visitas, então quando isso acontece eu acabo falando além do que deveria -risos-.“

Eu esperava que aquele homem me pedisse comida, ou então que ele quisesse ao menos tomar um banho, mas sabe o que ele fez? Ele me disse: “Quer que eu te ajude a arrumar a sua casa?”

“Que cara estranho! Quer me ajudar a arrumar minha casa sendo que ele nem ao menos sabe o meu nome.” Pensei.

“Claro!” Respondi (afinal, não sou tão boba a ponto de perder uma oportunidade dessas).
Passamos um bom tempo colocando as coisas novamente em seus devidos lugares. Enquanto arrumávamos tudo, ele fazia perguntas sobre mim e sobre minha história, e eu, obviamente, falava. Não era sempre que alguém se mostrava interessado por mim.

Pronto! A casa estava linda. Limpamos as paredes, jogamos algumas tralhas fora, retiramos retratos antigos, algumas teias de aranha, colocamos um vaso de flores na mesinha da sala, arrumamos todo o quarto, colorimos novamente a casa e até retiramos algumas paredes extras que estavam desalinhadas.

Eu ainda estava me perguntando por que alguém sairia num dia chuvoso pra ajudar uma menina a arrumar a casa. Aquilo era tudo muito estranho! Nem nos filmes que eu estava acostumada a assistir as pessoas agiam assim.

A noite foi caindo, e a chuva não estava dando nem indícios de parar. Resolvi chamar aquele homem pra passar a noite na minha casa, afinal, ele havia me ajudado muito e agora que eu tinha retirado a sujeira, minha casa estava vazia. (A sujeira/tralhas me incomodavam, mas ocupava espaço e me dava a sensação de que minha casa estava preenchida, então eu mantia aquela bagunça por lá mesmo). Ver minha casa toda colorida e ao mesmo tempo vazia era algo que não me agradava nem um pouco.
“Você quer passar a noite aqui, moço? Lá fora está frio e por aqui é perigoso. Tenho um quarto a mais na casa. Na verdade, é o melhor quarto da casa, mas não durmo nele porque ele é grande demais pra mim”

“Claro, muito obrigado.”

“Espera, você está aqui esse tempo todo me ajudando a arrumar a casa, colori-la, decora-la, carregando peso pra jogar o lixo fora, me ouvindo, sendo meu amigo e eu nem ao menos perguntei seu nome. Me desculpe por isso!” E logo em seguida completei: “Qual é mesmo o seu nome?”

Ele olhou em meus olhos, sorriu e me respondeu: “Jesus!”.

Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.
Apocalipse 3:20






Por fora, 22 anos, por dentro, uma eterna criança. Teimosa, chata, peculiar e mimada. Moro em uma cidade do interior de São Paulo chamada Ribeirão Preto, mas na verdade só estou aqui de passagem, pois pertenço, inegociavelmente, ao céu. Vivo olhando para o alto com cara de apaixonada como quem olha com admiração para um retrato de casa. Acredito, sobretudo, no amor, em especial, no amor de um Deus, soberano e majestoso que, mesmo sem eu merecer, me chama de Filha.