O que há fora da caverna é precisamente a realidade – Saramago

Frequentemente, ao nos depararmos com os desafios que a vida nos impõe, desejamos nos recolher, nos afastar para lambermos nossas feridas. Buscamos abrigo e refúgio dos perigos inevitáveis do caminho, das frustrações e decepções, dos lutos e perdas. Quando nos sentimos desolados e somos envoltos pelo medo, quando somos o próprio caos, nos asilamos na caverna.

A caverna é um lugar pouco iluminado, quase escuro, e aparentemente seguro de invasões indesejadas. Contudo é um lugar inóspito, sombrio, e oferece uma visão, na maioria das vezes, equivocada da vida do lado de fora dela.

Como no mito da caverna, em que os personagens encontram-se acorrentados e posicionados de forma a ver somente uma parede que refletia suas sombras, uma vez que havia uma fogueira às suas costas, muitas vezes por comodismo, medo, insegurança ou até mesmo por falta de conhecimento, por ignorância, acabamos nos sujeitando às situações e circunstâncias, com pouca ou nenhuma reflexão. Ficamos alienados e somos presas fáceis das armadilhas do desânimo, da angustia e da culpa. Não nos sentimos capazes de lutar, de reagir.

Mas de repente, alguma particularidade ou o acaso da vida, nos faz despertar do torpor, da inércia, e ainda de uma forma um tanto distorcida, conseguimos divisar e distinguir os eventos que nos envolvem. Tais acontecimentos nos revelam uma nova consciência dos fatos e outras perspectivas se abrem. Temos assim, a possibilidade de quebrar a sequência de repetições e descortinar as angustias e ilusões que nos aprisionam. Este conhecimento recentemente obtido estimula o pensar, desencadeia o senso crítico, tira da passividade, da apatia.

No entanto, o ponto a ser analisado, talvez, não seja somente a obtenção de uma nova consciência. Ela será de pouco valor se nada for feito a partir dela. A grande questão, é que mudanças demandam atitudes. E muito embora, para quem está do lado de fora, para quem não está a par de todo o contexto, pareça uma escolha infundada, absurda, permanecer como estamos, frequentemente a realidade é mais complexa, não apresenta uma resolução de forma tão objetiva.

Nem tudo na vida é tão simples como gostaríamos. Comumente, paralisarmos diante do novo. Nos sentimos confortáveis e seguros com o habitual, com a rotina (na caverna). Freud, em O Mal-Estar na Civilização, assinala que a todo momento somos confrontados por dois valores essenciais, liberdade e segurança, e frequentemente trocamos a liberdade que indica e sinaliza incontáveis possibilidades, por segurança.

Quanto da nossa segurança estamos dispostos a sacrificar em prol de liberdade, ou quanto abriremos mão de nossa liberdade por um pouco mais de segurança? O fato, é que são dois valores essenciais, sem os quais não haveria a civilização. Assim sendo, uma das maiores complexidades da vida, reside em encontrar o equilíbrio entre estas duas forças, segurança e liberdade.