Foi numa tarde linda de verão. Maria caminhou para a parada de ônibus, passou por João e ele a acompanhou com os olhos. Cabelos soltos, óculos Ray Ban para afastar os raios do sol forte refletidos nela, saia florida e rodada e de mochila nas costas.

O ônibus chegou sem demora, Maria entrou e João logo atrás. Cabelos castanhos, olhos claros, barba rala, com uma pastinha de plástico na mão, 27 anos. O ônibus lotado e eles vão ficando lado a lado, o ônibus arranca pela a Avenida.

Ele começa:

— Que coincidência! Pegamos esse ônibus juntos de manhã!

Maria olha para o lado para ver se falavam com ela. Olhou e pensou “Que cara lindo!”. Depois voltou ao seu estado de lucidez e falou, seca:

— Acho que não.

João insistiu:

— Tu não pegou esse ônibus de manhã hoje no Terminal?

— Ah, é! Sim…

Ela respondeu constrangida, se lembrando que realmente era a segunda vez que pegava aquele ônibus naquele dia.

— Eu tenho uma memória fotográfica muito boa…

Enquanto o rapaz falava, a mente dela voava “Eu não acredito que esse guri tá me paquerando, uma desconhecida, qual é a dele?”.

— … um dia encontrei um colega de faculdade e vi que era ele depois de anos.

— Aham, disse Maria, toda desconfiada, entre um sorriso meio aberto bem fingido.

O rápido diálogo durou uns 5 minutos, o tempo exato até chegar ao ponto de chegada da garota. Ela se virou para a porta do ônibus sem se despedir do novo conhecido, ouviu apenas:

— Alô? Sim! Já tô chegando, cara.

E desceu.

No seu destino, sua imaginação disparou. Jane Austen já dizia que a imaginação de uma mulher é muito rápida, pula da admiração para o amor, e do amor para o matrimônio em um segundo:

“Uma vez ouvi falar de um casal que se conheceu no ônibus. Se controle, por favor! Ele poderia ser um psicopata, louco, galanteador barato com segundas intenções, enganador de mocinhas ingênuas. É, mas não sou uma menininha de 15 anos e ainda mais ingênua! Ou poderia ser apenas um possível amor… Claro que não! Bobagens! Deveria ter dado mais conversa, vai saber… Que conversa que nada pra marmanjo! Fiz certo, cara fechada, coração resguardado! Ou não…”

E até aquele dia, ninguém mais soube se Maria e João tinham se encontrado novamente nas estradas ou nos ônibus da vida.

Austen tinha razão. A imaginação de uma mulher é muito fértil e rápida. Em segundos ela pode analisar os prós e os contras, imaginar uma possibilidade e fantasiar o futuro. Ainda mais aquelas que estão esperando a um tempinho para esbarrar com seu amor a qualquer dia desses. Quando avistamos ou conhecemos alguém já pensamos: “Será que é ele?”. É inevitável não pensar nessa possibilidade, podemos brigar com nossa mente, mas não adianta, já é algo automático.

Quando criamos expectativas sentimos aquele friozinho na barriga e nossos pensamentos voam à solta. Isso de forma equilibrada é muito saudável, porque nos faz manter a esperança e a fé. Sonhar nos mantém vivo e com ânimo para continuar. Porém, quando as expectativas ultrapassam os limites da realidade, precisamos tomar cuidado. Ir com calma é se precaver de tombos mais doloridos, de frustrações maiores.

Existe também o oposto: não criar expectativa nenhuma como uma forma de se auto proteger. O medo de se machucar (mais uma vez) é maior que a coragem de conhecer uma nova pessoa. Mulheres que sofreram muitas decepções e agora temem se abrir correm um grave risco: de deixar passar um grande amor ou até uma boa amizade.  Precisamos entender que no amor há sempre um risco, nada é 100% seguro.

O segredo é fazer a dosagem certa para nossas expectativas, nem de mais e nem de menos, mas na pedida equilibrada. Onde se sonha, crê, tenta, arrisca, se permite, mas sem o peso do devaneio, ansiedade e medo. Não sabemos quando e onde encontraremos  o amor.  Mas podemos manter a certeza de que Deus já planejou tudo e será muito bonito e surpreendente. Basta esperar com paciência e estar bem atenta as direções do seu sábio Guia.

 







Jornalista anunciando boas novas, cristã com senso crítico até dizer chega, devoradora de livros, fã de Jane Austen e defensora dos direitos das mulheres.