Inicialmente, à chegada dos filhos, temos a ilusão de que muito temos a ensiná-los, mas aos poucos vamos compreendendo que a missão de ser mãe é muito mais sublime. Ela nos molda, nos transforma. Ser mãe é saber que não temos todas as respostas, mas que estamos dispostas a descobrir juntos a melhor solução. Não temos a cura para todos os males, mas nos doamos integralmente em cada dificuldade que se apresenta, na busca de novas possibilidades, novos caminhos, novos recomeços.
Estamos imersos no ritmo frenético da vida moderna. Ninguém escapa a esta roda viva. Por sua vez, as crianças são as mais prejudicadas. São vítimas de um sistema extremamente competitivo, que exige cada vez mais delas, o que leva certos pais a roubar-lhes a infância, enchendo-lhes de atividades que pouco ou nada contribuem para a sua formação psíquica e emocional.
Ao longo dos anos tenho ensinado e aprendido com o ofício da maternidade. Talvez mais aprendido do que ensinado. E o que coloco aqui está baseado em conhecimento teórico científico, mas sobretudo, no conhecimento empírico. Palavra de quem está envolvida nesta missão há mais de vinte anos. Digo missão porque é assim que vejo a maternidade.
Frequentemente vemos pessoas adultas, mas imaturas emocionalmente. Com experiências subjetivas frágeis e delicadas, o que traz para si e para sua rede de relações grandes prejuízos, pois na maioria das vezes são pessoas de difícil convivência, carentes e inseguras.
Assim sendo, a formação psíquica e emocional da criança, merece destaque, visto que é a base, é o alicerce para toda a sua construção. E tudo o que diz respeito a isto, inevitavelmente envolve os aspectos: físicos, sociais, psicológicos e espirituais. Estes por sua vez, devem ser criteriosamente avaliados a atendidos.
Contudo, é certo que a escala de valores e prioridades, no sentido de atender estas necessidades, varia de família para família, de acordo com diversos fatores como nível social, econômico, cultural e religioso. Mas também é importante ressaltar que estes fatores mencionados, não são os únicos influenciadores na construção da psique. Assim como as características genéticas são transmitidas dos pais para os filhos, há também a transmissão do psiquismo entre as gerações.
Mas divergências à parte, no que tange às necessidades básicas da espécie humana, encontram-se no topo delas, àquelas mais arcaicas e primitivas, provenientes dos primeiros estágios de vida como atenção, cuidado e afeto. Se a criança for privada de atenção, cuidado e afeto, de maneira recorrente, e por tempo acima de seu limiar de tolerância, poderá desenvolver sintomas de menos valia, de aniquilamento, e carregar marcas emocionais imensuráveis.
Porém, em maior ou menor grau, essa sensação de abandono e desamparo, perduram por toda a existência humana, e atinge a todos, pois nos constituímos e nos confirmamos pelo outro. No entanto, quando as necessidades e carências básicas na constituição do EU, foram atendidas de forma satisfatória, a estrutura emocional é mais sólida, com mais mecanismos e recursos de enfrentamento das frustrações inerentes à vida.
Por isso, tamanha relevância dever ser dada à formação destes pequenos seres que trouxemos à vida. Formar cidadãos seguros de si, mas não autossuficientes, amorosos mas não subservientes, corajosos e valentes, mas não tolos, não é tarefa fácil. É desafiadora porque requer uma pausa na correria, requer menos cobrança e mais aceitação, mais diálogo, mais conversa olho no olho, mais escuta do que crítica, mais perguntas do que respostas, mais presença do que ausência, mais tempo, do que simplesmente tempo de qualidade. Porque todo o tempo gasto com filho deve ser de qualidade, não que eles devam ser o centro do universo, porque isto também é prejudicial, mas porque filhos crescem, e neste sentido eles não podem esperar.
Autora: Eva Wolff